segunda-feira

Parnasianismo existencial

Passar o tempo é um desafio tão grande. É como pular de um penhasco, sem nenhuma expectativa de se matar, ou de voar, pra quem isso interesse. A ideia é se agarrar desesperadamente a qualquer coisa que vier, sem escrúpulos, sem princípios... E a troco de nada. É uma eterna tentativa de se segurar a nada, por medo de não fazer nada, o resultado dessa briga também inexiste. Não tem troco. E faz todo sentido, quando alguma coisa acontece, com alguém ou com você, ou por perto. E por que todo esse medo de não fazer nada se não estamos fazendo nada afinal?

Mas é libertador. É libertador acreditar que nada é em vão, porque daí não há medo. É aquilo por aquilo, embora aquilo ser nada seja tão preocupante como não fazer nada. Que medo do ócio. Que medo do medo. Que medo do remoço. Que medo de nada.... A troco de nada.

sexta-feira

Sábado

São oito da manhã e eu já fumei um ou dois cigarros, mas não é por terror a vida ou sequer por apatia, falta do que fazer. É uma ansiedade boa como é boa toda vez que decido esperar você. Tem uma fumacinha extra que sai de mim toda a tragada, porque tá meio frio, orvalhado e isso deixa tudo mais bonito e enche tudo de esperança. Você enche tudo de esperança. Eu gosto de ser quem sou quando você está por lá. É como se eu tivesse algum valor. E eu amo você e você me ama... Nunca tudo foi tão simples.

segunda-feira

Cotidiano

O eterno tentar mudar, mas ainda sem conseguir. Vivendo de palavras vazias e de efemeridade,  sem nenhum resquício de identidade. Era a mesma varanda em que esteve tantas vezes, o mesmo cigarro que fumou tantas vezes, o mesmo café que bebeu tantas, infelizmente, não era a mesma que esteve lá, fumando um cigarro e bebendo café. Esteve lá nos tempos em que ainda tinha coração, esteve lá nos tempos em que ainda tinha esperança, esteve lá nos tempos em que ainda tinha algo a oferecer... Agora estava lá de novo, agora roubada, usurpada, sem nenhum vestígio do que fora um dia.

quinta-feira

Fleuner

Já não faz porquê acordar de manhã
porque todos os dias são o mesmo.
Presa dentro deste casulo,
o novo é uma peça de roupa ou uma xícara de café...
Talvez nem isso.

 A mesma roupa não deve ser tão ruim,
 o mesmo café de ontem.
Frio.
E isso não é sofrer,
Um novo dia e aprendizado,
talvez o mesmo dia e aprendizado nenhum.

São quatro horas, retroativas,
são oito horas e são as mesmas.
Sentada de frente pra um computador,
nada a dizer, nem a pensar, nada a fazer.

Fingir.

Sorrir um sorriso que não é meu, não é de ninguem.
Na verdade, nunca será.
Somos todos os mesmos.
Nem tudo é tão ruim.

E quinze minutos para um cigarro.
Não faz pensar, sedativo, adorável,
Algumas gotas de água.

E isso não é sofrer. Mas se isso não é sofrer...

sábado

É de se perguntar se, eventualmente, vai estar tudo bem. Não faz sentido ser feliz sem mais nada, a felicidade não faz arte, a alegria não é bela, não faz parte estar e ser constantemente bem. Se fosse tudo como deveria ser e, sendo, será que seria exatamente o que se espera? Não existe beleza alguma em um sorriso se for constante ou se for merecido.